Que tipos de livros o católico deve ler?

Para o católico leigo que tenha ou não o compromisso de evangelizar seria bom (ou quase obrigatório) a leitura de até sete tipos de livros levando em conta suas necessidades de tipos de formações como a humana, espiritual, doutrinal/eclesial e literária. Podendo ser em formato de livro ou textos, de preferência livros, porque têm o conteúdo mais consistente e mais bem elaborado. Essa divisão não é muito diferente do que encontramos em uma universidade, que tem as áreas Humanas, Médicas e Exatas. Podemos relacionar a área de Humanas na universidade no qual destaca a psicologia com a área humana psicológica do fiel que são as virtudes, faculdades da alma e imitação do Santos; sem contar a literatura e sociologia (relaciono à formação eclesial). A área de Exatas que corresponde de como modificamos o mundo material está relacionado com a área doutrinal (a parte que tratar neste nível) e eclesial. E a Médicas é relacionado com a salvação da alma no caso espiritualidade e imitação de modelos espirituais visto que naquelas é sobre a salvação do corpo.

O primeiro tipo seria sobre doutrina

Qualquer católico tem a obrigação de saber os fundamentos de sua fé e como perseverar nela. Saber os fundamentos e como perseverar são quase a mesma coisa. Se chamo de fundamentos a Escritura, tradição e magistério é quase impossível distinguir doutrina de exemplos a serem seguidos.

O problema é que hoje fazem uma distinção preconceituosa como se doutrina fosse algo apartado da oração e do testemunho cristão. A doutrina nasce de discussões teológicas e respostas a heresias, nem tudo da fé está em dogma, mas o que já está merece uma atenção, porque fala da essência da fé, se você não compreende os dogmas marianos pouco saberá de Nossa Senhora. Livros sobre doutrina geralmente estão nos documentos do Magistério, e o resumo dela para leigos é o Catecismo. Há outros tipos de catecismo além do mais recente de João Paulo II, que é o Catecismo Romano e o Catecismo Maior de São Pio X. Lembrando do didático livro de Leo Trese, A Fé Explicada. Se faltarem livros serão acrescentados com o tempo.

Há também não listado abaixo um tipo que pode servir a muitos que seria algum livro sobre oração, incentivo ou descrição dos graus de oração – sabemos que há vários graus de oração. Santa Teresa de Jesus tinha dificuldade para fazer oração e acabou descobrindo o livro “Tercer Abecedario Espiritual” de Francisco de Osuna que impulsionou sua vida de oração, ela não começou recebendo formações direta sobre oração de Jesus. Prefira um livro de oração escrita por um santo ou alguém muito antigo como o Imitação de Cristo. São livros que são provados pelo tempo, quando realmente se rezava e estudava.

Livros e estórias da vida de santos

A religião cristã é uma religião de testemunho, muito antes de ser formada a doutrina era pelo modelo e ensinamento dos apóstolos que se transmitia a fé. E o testemunho é a narração de um ou mais fatos da vida de alguém que é modelo para o cristão. Virtudes especiais e que não podem ficar presa em conceitos, como a caridade e fé, são compreendidas melhor por testemunho. Fatos particulares da vida de alguém tendem a ficar mais tempo na memória seja pela carga de impressão que causa, seja por muitos sentidos que são descobertos.

Nos evangelhos há alternâncias entre ensinamentos conceituais e testemunhos e algumas vezes os dois em um. Como exemplo de testemunho temos as ações de Cristo e suas parábolas e como conceitos ensinados os confrontamentos com fariseus, descrições sobre o reino e condições para segui-lo. Mesmo esses ensinamentos conceituais já são mostra do que deve ser ensinado ou descompactado por meio de testemunho dos santos, porque o evangelho não desdobra os significados já que seria muita coisa a ser escrita.

Aristóteles já falou como o ser humano é altamente mimético (que imita o outro) e confirmado até hoje por filósofos. São Paulo em Filipenses 3,17 mostra como a Igreja primitiva seguia o exemplo dos outros: “Irmãos, sede meus imitadores, e olhai atentamente para os que vivem segundo o exemplo que nós vos damos.” Livros e estórias que tratam de mártires, místicos, doutores, santos e beatos devem ser lidos mais de uma vez no ano. Principalmente por aqueles iniciantes e que não tem muita compreensão de livros mais intelectuais.

Há vários livros confiáveis que compilam a de vida de santos e que não foram tomados pela narrativa neopelagiana que valoriza muito mais as obras do que a fé, como os mais conhecidos temos: Legenda Áurea (J. Varazze), Na Luz Perpétua (Pe Lehmann) e Martirológio Romano. Não conheço o Vidas dos Santos de Alban Butler da editora Concreta, mas essa editora é confiável. Há muitos livros avulsos que vão desde muitos baratos lançados pela editora Ave Maria até os mais caros que estão em várias editoras e que devem ser escolhidos com cuidado vendo quem é o autor.

Livros sobre a Igreja ou história da Igreja

Para amar uma coisa ou pessoa se deve primeiro conhecê-la. Suas lutas, fortalezas e fraquezas, e nesse caso desta instituição fundada por Deus, sua substância espiritual que é causa de sua existência. O ser humano se agrega sempre em alguma comunidade, grupo ou local cultural, no qual suas ações são reconhecidas pelo próximo porque estão por uma mesma causa ou identificação. Esse aspecto social do ser humano não pode ser omitido jamais, porque se refere não apenas aos seus relacionamentos, mas também seu lugar na sociedade e na história.

A Igreja Católica é sempre atacada ao longo do tempo e isso imediatamente se reflete na fé dos fiéis. A fé de um católico (ou de outros cristãos) abarca desde sua visão de mundo até crenças pequenas que estão relacionadas a sua cultura. Compreender o que é a Igreja é saber o que ela faz na sociedade e o que ela fez e o que pode fazer. Quero dizer que, só se pode defender a fé a partir de uma cultura, na realidade, onde estamos. Se eu aprendi, por exemplo, que as portas do inferno não prevalecerão sobre a Igreja, isso só dá esperança perante qualquer conflito com a sociedade ou céticos, veja, portanto, que a história da igreja confirma essa profecia de Cristo.

Então porque ter o medo de alguém que diz não à igreja e ao mesmo tempo diz que apenas rezar para Deus salva? Ao contrário, essa pessoa merece ouvir porque somente pela Igreja se salva, da mesma forma que somente pelas instituições ela aprende, se cura, ganha sua vida organizada na sociedade e muitos privilégios. Sabemos que a Igreja tem sua alma que a move (encíclica Mystici Corporis Christi). Autores a serem pesquisados sobre esse tema: Henri Daniel-Rops, Christopher Dawson e Jacques Le Goff e outros. Para um nível mais mastigado tem os livros do Felipe Aquino.

Livros sobre Sacramentos

São os sinais sensíveis e eficaz da graça, dito de outro modo, coisas/ações visíveis que os fiéis percebem receber uma grande graça – e mesmo em sua pouca fé. Os sacramentos são um meio de receber a graça de Deus além da oração. A leitura deste tipo de livro não se restringe a aprender conceitos, mesmo que esse por si já possa ser meditado, mas saber todo fluxo espiritual que está por trás do sacramento. Corresponde a valorizar e ter verdadeira consciência do sacramento, e que traduz na fé e na vida do fiel na prática de ser católico. O recomendado são livros sobre sacramentos, confissão e eucaristia que têm em muitas editoras católicas, contando também os testemunhos de santos. Além das editoras tradicionais, a editora Quadrante lançou vários livros específicos.

Livros e textos sobre virtudes e vícios capitais

Se referem não apenas de como age o ser humano, mas ao conhecimento de sua própria alma; se referem a vivência de sua fé, prática da caridade e esperança – virtudes teologais reforçada pelas morais. As virtudes e vícios têm fundamento bíblico e também de anos de observação coletadas por Santos da Igreja.

Se você vê o pecado capital “Preguiça” no livro de Tanquerey [1], ele vai explicar a natureza e seus graus nas pessoas, depois como se manifesta em nós, seguido pelo remédio contra este mal que vão desde convicções até meditações específicas que o cristão omite. As virtudes são ainda mais detalhadas nesse compendio de Tanquerey. Em que áreas da vida podemos melhorar? É uma riqueza de conhecimento maior que andam pregando por aí no caos das metodologias psicológicas onde cada uma diz algo diferente. Além do livro do Tanquerey há o do Royo Marin: Teologia da Perfeição Cristã do Royo Marin. É recomendado que você compre ao menos um desses dois citados anteriores, você vai realmente entender da vida espiritual. Sobre vício há o: Os sete pecados capitais de São Tomas de Aquino pela editora Martins Fontes. Os Setes Pecados Capitais de Kevin Vost. Na editora Quadrante há vários específicos sobre virtudes.

Literatura cristã

A inteligência fornece à vontade o que se deve querer, e a inteligência requer dados da memória e imaginação, e, na verdade, a memória é apenas o que se tira da realidade mais a imaginação. “A imaginação – como nos ensinam tantos santos – é uma potência da alma a ser formada para a plenitude da fé, da esperança e da caridade.” [2] Podemos até para fim didático dar outros nomes para a imaginação, como a palavra foco, estar focado em uma coisa é colocar toda sua atenção e memória naquilo, você encher sua imaginação é colocar sua mente cada vez mais próxima daquela realidade. Neste caso falamos da realidade de ser cristão, no qual os valores bons devem ir para a memória/imaginação para que assim oriente a ação do cristão seja qual for a situação em que estiver.

As situações que enfrentamos no dia a dia não é maior que as guardadas na literatura. De acordo com o Beato Henry Newman [3] a literatura católica pode ser produzida até por não católicos, mas que seja possível ver na obra elementos que são defendidos pela Igreja Católica. Livros dessa literatura vão desde os mais fáceis como livros sobre fábulas, passando por Chesterton e CS Lewis até os mais difíceis como A Divina Comédia.

Uma coisa deve ser esclarecida, esse artigo divide a importância de ler do cristão por tipos essenciais de livros para sua fé, não importando se têm chamado ou à vida de estudos ou à vida intelectual, então esse artigo pode servir a ambos. Todo católico é chamado a ter uma certa vida de estudos, mas poucos à vida intelectual (é mais aprofundada). Livros católicos importantes sobre qualquer tema não foram colocados, mas podem ser tema de um outro artigo.

A igreja está em um mundo real no qual decisões políticas influenciam seus fiéis. E o pior: o poder intelectual de teólogos sobre a doutrina e sobre a forma de agir do clero não pode ser desconsiderado, assim, os católicos que têm chamado a vida mais intelectual tem o dever de estudar filosofia e teologia tomista e aprofundar em muitos outros temas. A teologia não é brincadeira de homens estudiosos, mas uma forma de dar explicações entre a fé e as ideias da sociedade.

[1] Compêndio de Teologia Ascética e Mística, Adolphe Tanquerey

[2] Congresso Online de Literatura Católica http://literaturacatolica.com.br/sobre-o-congresso

[3] http://tolkienbrasil.com/2018/05/21/tolkien-e-a-literatura-catolica

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