Sem a Igreja Católica não teria havido ciência

Maior parte do que exposto aqui a leitura do livro How the Catholic Churc built Western Civilization de Thomas E. Woods Jr. Livro de leitura simples, rápida e agradável, no entanto, revelador de verdades que foram “esquecidas”, ou seria melhor dizer, deliberadamente apagadas da memória dos contemporâneos.

Seleciono algumas verdades que foram e são sonegadas: o moderno pensamento econômico da Escola Austríaca (teoria subjetiva na formação dos preços) foi pela primeira vez formulada por pensadores escolásticos. A lei da inércia de Newton já está in potentia na obra dos pensadores cristãos. O apoio que a Igreja Católica deu à ciência durante séculos e séculos – que vai desde a construção das universidades ao apoio financeiro aos cientistas – quer sejam eles clérigos ou não. O número expressivo de clérigos cientistas em todas as áreas do conhecimento humano. A preservação do legado cultural do Ocidente durante a fase terrível após a queda do Império Romano por meio dos mosteiros – claro, houve também neste particular contribuição decisiva dos muçulmanos.

Além disso, a tese – que parecerá fantástica e pouco crível – mas inteiramente coerente com as fontes históricas é que o pensamento cristão – ao contrário das outras tradições sapienciais do mundo – favorece e FAVORECEU o surgimento da ciência moderna – o que explica o seu aparecimento e cultivo na Europa, onde o domínio cultural da Igreja Católica foi absoluto durante séculos. O fato principal é que a metafísica cristã propugna que o mundo natural é cosmos, é ordem, é inteligível. Além disso, a mensagem cristã dessacraliza radicalmente o cosmos (todo o universo físico), ao enfatizar que só Deus é transcendente. E Mais. O homem é o ápice da criação e dotado de razão, o dom maior dado por Deus a ele. Tal concepção do mundo permitiu aos cristãos e somente a eles investigar, de maneira inédita, com as poderosas armas da razão, o mundo circundante, tratando-o como matéria de investigação e não objeto de temor reverencial, que o cristão só deve a Deus. Assim, a conclusão fantástica: o desencantamento do mundo que Weber coloca como fato da Idade Moderna, em especial após o Iluminismo, é na verdade, a própria metafísica cristã. O mundo já estava desencantado desde a pregação de Cristo – só os propagandistas querem que acreditemos que foi conquista da razão contra a Igreja Católica. Pelo contrário, foi conquista da razão em virtude da metafísica cristã e de sua defesa pela Igreja Católica durante séculos a fio.

A idéia de um universo racional e ordenado – enormemente fecunda e na realidade indispensável para o progresso da ciência – escapou de civilizações inteiras.

Em Science and Creation, Jaki examina à luz dessa tese sete grandes culturas – a árabe, a babilônica, a chinesa, a egípcia, a grega, a hindu e a maia – e conclui que em todas elas a ciência sofreu um “aborto espontâneo”. A razão disso é que, por carecerem da crença em um Criador transcendente que dotou a sua criação de leis físicas consistentes, essas culturas conceberam o universo de modo panteísta, como um gigantesco organismo dominado por um panteão de divindades e destinado a um ciclo sem fim de nascimento, morte e renascimento. Isso tornou impossível o desenvolvimento da ciência.

Para o cristianismo o divino repousa estritamente em Cristo e na Santíssima Trindade, que transcende o mundo; exclui-se assim qualquer tipo de imanentismo e panteísmo, e não se impede os cristãos, muito pelo contrário, de enxergarem o universo como um reino de ordem e previsibilidade, ou seja, em ultima analise como o domínio próprio da ciência.

Jaki não nega que essas culturas tenham alcançado notáveis feitos tecnológicos, mas mostra que não vemos surgir daí nenhum tipo de pesquisa científica formal e sustentável.

Rodney Stark professor de sociologia e religião comparada da Universidade de Whashington, afirmou: “as primeiras inovações tecnológicas greco-romanas, do Islã, da China Imperial, sem mencionar as realizações dos tempos pré-históricos, não constituem ciência e podem ser descritas como artesanato, técnica… ou simplesmente conhecimento.”

A antiga Babilonia é um exemplo ilustrativo. A cosmogonia babilônica era sumamente inadequada ao desenvolvimento da ciência.

Na China fatores culturais inibiam a ciência. Segundo o historiador marxista Joseph Needham, a culpa foi a estrutura religiosa e filosófica em que os pensadores chineses se moviam.

Os gregos atribuíam um propósito aos agentes imateriais do cosmo material (assim, por exemplo, Aristóteles explicava o movimento circular dos corpos celestes pela “afeição” que os “primeiros motores” de cada esfera celeste – esfera da lua, sol e etc – teriam por esse tipo de movimento). Jaki sustenta no que diz respeito ao progresso da ciência, coube aos escolásticos da Idade Média levar a cabo uma autêntica despersonalização da natureza.

Os estudiosos mulçumanos ortodoxos rejeitaram totalmente qualquer concepção do universo que envolvia leis físicas estáveis, porque a absoluta autonomia de Alá não podia ser cerceada pelas leis naturais.

A visão católica tomista considerava importante saber que universo Deus criou afim de evitar elucubrações abstratas sobre que universo deveria ter criado. A completa liberdade criadora de Deus significa que o universo não tinha de ser de um certo jeito, ora é por meio da experiência – ingrediente-chave do método científico – que chegamos a conhecer a natureza do universo que Deus decidiu criar. E podemos chegar a conhecê-lo porque é racional, previsível e inteligível.

Essa abordagem evita dois possíveis erros.

Em primeiro lugar, previne contra as especulações sobre o universo físico divorciadas da experiência em que os antigos caiam frequentemente. (…)

Em segundo lugar, implica que o universo criado por Deus é inteligível e ordenado, deu aos modernos cientistas a confiança filosófica necessária para se dedicarem aos estudos científicos.

Sabendo que pessoas indispostas para acreditar no evangelho e seguir uma igreja aproveitam para criticar a Igreja Católica usando a história, mesmo sabendo que tais críticos também não são perfeitos, a história na verdade mostra que de críticos os historiadores de hoje só entendem da crítica do marxismo.
Mitos como de que a ciência não evoluiu na idade média ou de que o cristianismo impedia o desenvolvimento científico, são não apenas refutados aqui, mas também o grande mérito da ciência se deve a Igreja Católica.

Um outro fato paralelo e crucial: os escolásticos são retratados como pensadores de pouco importância teórica a repetir servilmente as verdades aristotélicas. Nada mais falso. A física aristotélica depois da síntese tomista foi rejeitada pela Igreja católica em 1277. O que poderia parecer um “erro” aos olhos modernos, visto que a Igreja Católica estaria censurando a livre circulação do pensamento de Aristóteles representou na verdade um ganho a longo prazo, visto que libertou os pensadores cristãos dos equívocos da física aristotélica dando início à livre investigação do mundo físico – o que a metafísica cristã já autorizava. Em suma: o livro é um tesouro precioso para quem quer saber a verdade sobre nós, sobre a civilização ocidental. (O livro esta disponível em português na loja: http://www.quadrante.com.br)

A alegada hostilidade da Igreja Católica à ciência não resiste a qualquer análise. A verdade é que, sem a Igreja, não teria havido ciências sistemáticas e dinâmicas, diz Woods.

De fato, a idéia de um mundo ordenado, racional — indispensável para o progresso da ciência — está ausente nas civilizações pagãs. Árabes, babilônios, chineses, egípcios, gregos, indianos e maias não geraram a ciência, porque não acreditavam num Deus transcendente que ordenou a criação com leis físicas coerentes.

Os caldeus acumularam dados astronômicos e desenvolveram rudimentos da álgebra, mas jamais constituíram algo que se pudesse chamar de ciência. Os chineses “nunca formaram o conceito de um celeste legislador que impôs leis à natureza inanimada” (p. 78). Resultado: descobriram a bússola, mas não sabiam para o que servia e a usavam em adivinhações.

A Grécia antiga confundia os elementos com deuses perversos e caprichosos. O Islã recusava a existência de leis físicas invariáveis, porque coarctariam a vontade absoluta de Alá (p. 79) (Aliás, foi por causa deste irracionalismo que o papa manifestou-se em Regensburg, causando a fúria dos muçulmanos no ano passado. Para eles, “Alá” é um deus que contraria a própria razão, só para mostrar que é superior a ela…). Essas crendices todas tornam impossível a ciência (p. 77).

O historiador da ciência Edward Grant indaga: “O que tornou possível à civilização ocidental desenvolver a ciência e as ciências sociais, de uma maneira que nenhuma outra civilização o fizera anteriormente? A resposta, estou convencido, encontra-se num espírito de investigação generalizado e profundamente estabelecido como conseqüência da ênfase na razão, que começou na Idade Média” (p. 66).


Então, se você encontrar alguém dizendo que a Igreja atrasou a ciência ou que misturava fé e ciência tornando impossível a evolução da ciência, resumo o que foi colocado acima, para facilitar sua conversa:

-A Igreja não apenas fundou as universidades, conformes outros artigos, mas também deu apoio a cientistas clérigos ou não.

-A Igreja por colocar corretamente a fé e a razão cada uma em seu lugar, ou seja, distingui-las e mesmo sabendo que há harmonia entre elas, permitiu que o mundo fosse investigado com a razão afastando os falsos misticismos de outros povos que tornavam impossível a ciência. Como exemplo os chineses que descobriram a bússola, não podia saber para que servia e usava ela em adivinhações. E na Grécia antiga os elementos da natureza eram misturados com a ideia dos deuses.

-A renúncia da física aristotélica da início a livre investigação do mundo físico, além do que já foi colocado acima.

-Vimos então uma das contribuições da Igreja pelo qual somente a civilização europeia se desenvolveu cientificamente e tecnologicamente deixando outros povos (asiáticos, mulçumanos e etc) que estavam no mesmo nível para trás.

Fonte: Woods Jr., Thomas E., Como a Igreja Católica construiu a civilização OcidentalEditora Quadrante, 2008.

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